Entrevista: Rafael Parente fala sobre a Educação do DF

Em entrevista exclusiva ao portal Foco Nacional, o ex-secretário de Educação do DF fala sobre o futuro da Educação no DF



1-) Estando de fora da atual gestão do GDF, como o sr. tem visto a administração desse novo modelo? A expansão é boa para o DF? 
Rafael Parente: Antes de mais nada, precisamos compreender por que o projeto tem alta aprovação junto à população. Vivemos uma realidade de violência endêmica no Brasil e essa violência também entra nas escolas. Temos casos bastante graves acontecendo com frequência no ambiente escolar e a segurança dos alunos é a maior preocupação de pais e familiares e a segunda maior preocupação dos próprios alunos. Ou seja, nós precisamos fazer alguma coisa. Precisamos conseguir implementar políticas públicas que resolvam todos os problemas relacionados a violências e à indisciplina. 

A gestão compartilhada com a segurança parece ser uma boa política, já que você leva para a escola entre 15 e 30 profissionais que, em tese, são bem selecionados e formados para o trabalho no ambiente escolar. A sensação de segurança aumenta e a indisciplina diminui, até porque os alunos com mais problemas são transferidos ou pedem transferência para outras escolas. Sei que isso está acontecendo porque recebi, enquanto secretário, reclamações de diretores de escolas que não participam do projeto e que estão recebendo estes alunos. 

Ao mesmo tempo, há vários problemas com a implementação do projeto. Em primeiro lugar, não há como implementá-lo em escala por conta do custo gigantesco. O MEC investirá R$1 milhão por escola e chegará em menos de 220 escolas brasileiras nos 4 anos de governo. Isso faz com que a política seja irrelevante em um universo de dezenas de milhares de escolas. No DF, o projeto deve chegar a 40 escolas em um universo de 700, o que também faz com que a política seja irrelevante. 

Além disso, todos os especialistas da área educacional sabem que ainda não há evidências científicas que comprovem que o investimento em escolas militares seja uma boa política a ser implementada. Não acredito, sinceramente, que essa comprovação virá algum dia. Não há comprovação de que este investimento, que é bastante alto, tenha o mesmo impacto ou impacto maior do que outras políticas públicas comprovadamente efetivas para a melhoria da aprendizagem e do bem-estar de alunos e professores.

Os mesmos recursos poderiam ser melhor utilizados. Ao invés de olhar somente para 40 escolas, em um total de 700, o governo implementaria uma política mais efetiva restabelecendo os dois policiais do batalhão escolar por escola (isso já existiu no passado), além de garantir porteiros, psicólogos e coordenadores de disciplina em todas as escolas da rede.

2-) As decisões da comunidade escolar precisam ser respeitadas?
Rafael Parente: Impor qualquer coisa para as escolas, além de uma postura autoritária, é uma decisão de gestores ruins, que não entendem nada da área. A gestão democrática nas escolas é uma das principais conquistas na história da rede educacional do Distrito Federal e que também aconteceu em outros estados, como Acre, Rio de Janeiro e Piauí. Acabar com esse avanço seria um péssimo legado para o presidente, governadores e secretários estaduais de educação, além de representar um revés para a nossa democracia, como um todo. Falas e ações autoritárias e truculentas sempre serão o sinônimo de atraso. Historicamente, os avanços, educacionais, sociais e econômicos no Brasil são muito lentos. É dever de qualquer cidadão republicano defender a nossa democracia de qualquer ameaça ou continuaremos perdendo conquistas importantes. Inclusive, e principalmente, nas escolas.

3-) Fora do GDF, o sr. tem criado agendas de políticas públicas. Já há algum projeto de lei em elaboração? Qual?
Rafael Parente: Sim. Estou trabalhando com alguns deputados distritais na elaboração de leis que garantam um cuidado com a saúde dos professores e de todos os profissionais da educação e, além disso, que garantam a efetividade de uma política de formação continuada. 

4-) Quais são seus projetos políticos? Vai se candidatar? Por qual partido? 
Rafael Parente: Essa definição de me candidatar ou não só acontecerá no final de 2021 ou início de 2022. E só acontecerá caso realmente seja necessário dentro do cenário político então. Eu sou um técnico. Ter sido secretário de Educação do Distrito Federal foi a melhor experiência que vivi em minha vida, e poderia sê-lo novamente, de preferência sem tantas interferências e problemas relacionados a interesses econômicos e político-partidários. Sou cofundador do Movimento Agora! e coordenador do Grupo de Trabalho de Educação. Nós queremos que o movimento cresça no DF, que ajude a conduzir uma reflexão sobre a qualidade da política local, do trabalho dos políticos e da urgência de mais organização, força e mobilização da sociedade civil. Quando comparamos a atuação da sociedade civil do DF com SP ou RJ, chegamos à triste conclusão de que mais organização, articulação e mobilização são urgentes.

5-) Como tem visto a política do MEC para as universidades federais? 
Rafael Parente: Há poucos acertos, infelizmente. Parece-me que o MEC vê as universidades como inimigos, enquanto deveria ser uma das prioridades do Ministério buscar soluções para os problemas (inclusive onde há gestão pouco eficiente) e pensar o desenvolvimento de pesquisas científicas como um dos ativos mais estratégicos do nosso país. Se hoje conseguimos aumentar a produção agropecuária sem precisar de mais terra de cultivo, construir aviões e avançar na cura de doenças, devemos isso a nossas universidades.

6-) A situação dos professores no DF se agrava a cada dia. Eles têm pendências com precatórios, não têm plano de saúde, não receberam reajuste. Havia alguma análise sobre melhorias para a categoria? O que o sr. pensa sobre o assunto?
Rafael Parente: Enquanto fiz parte do governo, batalhei por melhorias salariais, melhores condições de trabalho, formação continuada mais efetiva, plano de saúde e nomeações. O governador chegou a prometer nomeações (além das que já foram efetivadas), gratificações para coordenadores pedagógicos, aumento das gratificações para diretores, aumento salarial e que o plano de saúde sairia primeiro para todos os profissionais da educação (incluindo os profissionais da carreira assistência). Eu espero, sinceramente, que todas as promessas sejam cumpridas e que o governo compreenda que a Educação deve ser a prioridade das prioridades. Não só porque tem as carreiras que mais sofreram desvalorização salarial ao longo dos últimos governos, mas porque não há nada mais fundamental para o avanço civilizatório de qualquer sociedade do que o seu desenvolvimento educacional. Coreia do Sul, Singapura, Vietnã, Portugal, entre outros, estão aí para comprovar este fato.

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