Especialista em assédio no trabalho, Michelle Heringer, comenta sobre dados e alerta para a importância de denúncias contra esta discriminição
Uma pesquisa realizada pelo Instituto Cidades Sustentáveis em parceria com o Ipec (Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica), revelou que 75% das mulheres que vivem nas 10 maiores capitais do Brasil já foram vítimas de algum tipo de assédio. O levantamento foi apresentado no último dia 11 de março, em um evento presencial e gratuito no Centro de Pesquisa e Formação do Sesc, em São Paulo.
O estudo apontou que ruas e espaços públicos, como praças e parques, são os locais onde o assédio ocorre com mais frequência, com 56% das mulheres relatando episódios nesses ambientes. Em seguida, aparecem o transporte público (51%), o ambiente de trabalho (38%) e bares e casas noturnas (33%).
Dentre os dados destacados, o assédio no ambiente de trabalho chama atenção pela sua persistência e impacto na vida profissional das mulheres. Segundo a pesquisa, 38% das entrevistadas afirmaram ter passado por essa situação, evidenciando que o problema está muito mais próximo do que se imagina.
"O assédio no trabalho é uma das formas mais graves e persistentes de violência que impactam a vida profissional, emocional e social das mulheres. Embora o espaço público e o transporte ainda sejam os locais com maior índice de prática de violência contra a mulher, o ambiente de trabalho aparece em terceiro lugar, atingindo 38% das mulheres. Isso mostra que o problema está muito mais perto do que muitas vezes imaginamos e dentro de ambientes que deveriam ser seguros e respeitosos", alerta a especialista em assédio no trabalho, Michelle Heringer.
Porto Alegre registrou o maior índice de mulheres que afirmaram já ter sofrido assédio (79%), enquanto Belo Horizonte e Fortaleza apresentaram os menores percentuais (68%). Além dessas capitais, a pesquisa foi realizada nas cidades de Manaus, Belém, Recife, Salvador, Rio de Janeiro, São Paulo e Goiânia.
O levantamento também analisou quais medidas a população considera prioritárias para enfrentar o problema do assédio contra mulheres. Entre as ações mais mencionadas, 54% dos entrevistados apontaram a necessidade de aumentar as penas para quem comete violência contra mulheres. Além disso, 49% destacaram a importância de ampliar os serviços de proteção para mulheres em situação de violência em todas as regiões das cidades, enquanto 40% sugeriram a agilização das investigações de denúncias como uma solução essencial.
A especialista alerta que, "Além do impacto na saúde mental, como ansiedade, depressão e estresse, o assédio compromete a produtividade, destroi o ambiente organizacional e pode levar até ao abandono do emprego. Muitas vítimas se sentem acuadas, com medo de denunciar, principalmente quando o agressor ocupa uma posição de poder. O silêncio protege o assediador, mas a informação e a denúncia protegem a vítima e transformam o ambiente”, conclui.